O abastecimento de água de loteamentos residenciais
Loteamentos residenciais são obras implantadas em terrenos grandes, com capacidade de abrigar, ao longo dos anos, populações expressivas, e que a cada dia se localizam mais afastados das áreas mais urbanizadas dos municípios. Situam-se, também, longe das redes públicas de distribuição de água das concessionárias de saneamento, o que dificulta e encarece o recurso, podendo mesmo impossibilitar o abastecimento de água potável a partir dessas redes.
Essa questão, da maior importância para garantir a viabilidade desses núcleos de desenvolvimento urbano, exige avaliação adequada por parte de seus empreendedores desde os primeiros estudos que forem realizados. As possibilidades de suprimento são limitadas: ou a água é obtida junto ao sistema da concessionária, ou é captada em aquíferos, através de poços profundos, ou em cursos d’água.
No primeiro caso – que é o ideal, uma vez que a água já se encontra potabilizada –, a localização do empreendimento pode dificultar o fornecimento de água, seja pela distância, seja pelas dificuldades de traçado de tubulações impostas pelo relevo e pelo uso e ocupação do solo. Não foram raros os empreendimentos em que projetei sistemas de água, nos quais houve necessidade de se implantar tubulações a partir do sistema da concessionária com mais de 2 Km de extensão. Toda sorte de problema apareceu: a necessidade de travessia de rodovias (com método não destrutivo, obviamente), ou de cursos d’água (a exigir outorga); assentamento em vias asfaltadas (e consequente necessidade de reposição de pavimento); passagem por propriedades privadas (com necessidade de autorização do proprietário), sem dizer dos inúmeros problemas de traçado geométrico e dificuldades de escavação.
No segundo caso, em que o empreendedor tem que captar as águas e promover sua potabilização para depois distribuir, há pontos importantes a serem checados. O primeiro é, evidentemente, a disponibilidade de água para a demanda necessária associada a uma qualidade mínima que não inviabilize o tratamento. Nesse aspecto, as águas subterrâneas, em tese, se constituem na melhor opção, pois apresentam, em geral, boa qualidade, simplificando os processos de tratamento.
Por outro lado, há que se considerar que, em algumas regiões, a quantidade de águas subterrâneas disponível a profundidades razoáveis (algo como 100 metros) é baixa. No Estado de São Paulo, em uma extensa região onde há ocorrência de uma formação geológica denominada Cristalino, as produções de poços podem variar significativamente de um local para outro, podendo ser muito baixas.
A outra opção é a captação superficial da água em córregos ou lagos. Desde que o empreendimento não seja muito populoso, essas fontes de suprimento costumam atender com folga a demanda de água prevista. O problema maior é o da qualidade das águas captadas, em especial se o curso d’água escolhido atravessar áreas urbanizadas antes de chegar ao local do empreendimento. O custo e o risco (de falha e, portanto, de distribuição de água não potável aos moradores) do tratamento podem ser inviáveis para o loteador.
Como se vê, o tema é importante e requer do empreendedor planejamento adequado, feito por profissionais qualificados e devidamente capacitados, com formação nas áreas de engenharia civil, química (no caso de tratamento), sanitária ou ambiental.
(*) Helio Narchi é mestre em engenharia hidráulica, consultor de empresas nas áreas de saneamento e meio ambiente, professor universitário e docente da UniSecovi no segundo curso do Programa de cursos sobre projetos e aprovações de loteamentos.