Telhado branco não é solução para São Paulo
Tramita na Câmara Municipal de São Paulo um projeto de lei que, no mínimo, merece maior amparo técnico. De acordo com o PL, os telhados e coberturas das edificações deverão ser de cor branca. E caso seja aprovado, haverá um prazo de 180 dias para todos se adaptarem à nova lei.
“A intenção é até meritória: refletir o calor e, com isso, reduzir o consumo de energia elétrica em sistemas de condicionamento de ar e ventilação, contribuindo para diminuir o efeito estufa. Mas a medida não é a mais adequada para a nossa cidade”, afirma o vice-presidente de Sustentabilidade do Secovi-SP, Ciro Scopel.
Conforme entendimentos de instituições como o Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS), é possível garantir ganhos de conforto térmico e menor consumo de energia sem a necessidade de utilizar cor branca ou clara, inclusive por meio de uso de arborização urbana e cobertura verde.
Além de desnecessária, a especificação de qualquer cor ignora necessidades estéticas, culturais e de funcionalidade, podendo descaracterizar conjuntos históricos. A utilização da cor branca ou clara de forma generalizada pode trazer problemas funcionais para o ambiente construído, pois a excessiva reflexão de luz pode causar ofuscamento e desconforto visual para ocupantes de edifícios vizinhos.
Vale ressaltar que os telhados apenas se mantêm reflexivos se periodicamente submetidos à limpeza com água e escovação.
Diferentemente de outros países, no Brasil a quase totalidade dos telhados é inclinada, com risco de escorregamento e a maioria das telhas, como de cerâmica e fibrocimento, podem quebrar sob o peso de uma pessoa caminhando, exigindo estruturas adicionais. Esses aspectos tornam operações de limpeza e manutenção mais difíceis e arriscadas, reduzindo assim a efetividade da solução.
“Há, ainda, a questão da durabilidade das tintas (brancas ou não) para aplicação em telhados, que precisariam avançar para garantir menos gastos com repintura e evitar a criação de fungos, prejudiciais à saúde. Seriam, pois, necessárias coberturas reflexivas e autolimpantes, que são alternativas efetivas, porém ainda bastante caras e com tecnologias em desenvolvimento”, considera o diretor de Sustentabilidade do Secovi-SP, Hamilton de França Leite Júnior.
“O que deve ser considerado é o desempenho dos materiais, não a cor. Desempenho este ainda não testado no que diz respeito aos chamados telhados verdes (com vegetação), notadamente no que se refere à viabilidade econômica em termos de instalação e manutenção”, completa o vice-presidente de Tecnologia e Qualidade do Sindicato.
Outra questão é que a maioria dos telhados, para receber tinta, terá de ser lixada. Isso representa amianto espalhado no ar em quantidade absurda, haja vista o tamanho da cidade. Só esse fato já seria suficiente para mostrar a impropriedade do projeto.
Finalmente, um ponto que o projeto não focaliza é o papel da arborização urbana para diminuir ilhas de calor. “É importante que nossos vereadores considerem os aspectos técnicos antes de aprovar uma legislação que não trará resultados imaginados. Melhor propor leis que incentivem verdadeiramente a sustentabilidade, inclusive por meio de políticas de incentivo, como se vê em diversos países”, conclui Scopel.