Livro resgata o passado, questiona o presente e provoca o debate sobre o futuro de São Paulo

Um Olhar Sobre São Paulo, mais recente livro de Ricardo Viveiros, foi lançado na noite de ontem, 7 de julho, no Museu da Casa Brasileira. Mais de 1.000 pessoas, dentre as quais o prefeito paulistano, Gilberto Kassab, secretários municipais e estaduais, personalidades de vários setores, estiveram presentes à sessão de autógrafos, que teve show do grupo Trovadores Urbanos e uma exposição das imagens do livro.

A obra, ricamente ilustrada com fotos de Kênia Hernandes, é resultado de uma ação institucional do Secovi-SP, o Sindicato da Habitação, que, em 2011, celebra 65 anos de existência. “Quando fui convidado pelo presidente da entidade, o engenheiro João Crestana, para produzir esse livro, resolvi pesquisar o mercado para verificar quais eram as publicações sobre a cidade que já existiam. Encontrei mais de 200 títulos. Decidi, então, criar algo diferente, que realmente permitisse lançar um novo ‘olhar’ sobre a capital paulista”, revela Viveiros.

O resultado foi um livro-reportagem baseado nos testemunhos de 37 moradores da cidade, todos de idade avançada: “O bom de conversar com pessoas idosas é que elas tendem a ser mais sinceras, pois já não se preocupam tanto em causar boa impressão ou agradar alguém por interesse”, constata Viveiros. “Dessa forma, foi possível fazer um trabalho rico, repleto de depoimentos corajosos e emocionantes”, salientou o autor.

“A obra vem para ajudar a construir a memória da cidade, para que a população conheça melhor São Paulo. Este é um documento muito importante e de qualidade feito por pessoas que conhecem profundamente a realidade de nosso município”, afirmou o prefeito Gilberto Kassab. “São depoimentos que agregam, pois são pessoas que conhecem o passado de São Paulo e estão ajudando a projetar o futuro”, analisou o secretário de Habitação do Governo do Estado de São Paulo e presidente da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), Silvio Torres, que representou o governador Geraldo Alckmin. Também estiveram presentes o secretário de Cultura do Estado de São Paulo, Andrea Matarazzo, e os secretários municipais do Meio Ambiente, Eduardo Jorge, e da Habitação, Ricardo Pereira Leite.

O debate da questão urbanística

Para o presidente do Secovi-SP, engenheiro João Crestana, o grande mérito de Um olhar sobre São Paulo consiste em colaborar para a construção da cidade futura. “No século 20, o crescimento demográfico foi muito expressivo, pois saímos de uma concentração populacional de 240 mil habitantes para chegar aos atuais 11 milhões. Isso tudo sem planejamento urbano”.

Na visão de Crestana, a leitura de Um olhar sobre São Paulo ajudará a alimentar amplos debates sobre as questões urbanísticas. “Queremos levar a discussão sobre o tema para a casa, o salão de cabeleireiro, a roda de amigos. O objetivo é atingir o maior número de cidadãos paulistanos e popularizar esse assunto”.

“Acompanhando o ‘olhar’ de quem vive na cidade há, em média, 80 anos, perceberemos a São Paulo antiga, suas transformações e possibilidades futuras”, prossegue Crestana. “Temos de deixar um legado positivo para as futuras gerações e resgatar a harmonia da convivência entre as pessoas, que antes era muito maior”.

Crestana lembra ainda que o autor do livro, é jornalista e, por muitos anos, atuou como repórter e comentarista nas mídias impressa e eletrônica paulistana, o que o credencia como um legítimo conhecedor da cidade.

Personagens

Na escolha dos entrevistados, Viveiros optou pelo ecletismo: arquitetos, urbanistas, engenheiros, sociólogos, juristas, médicos, cientistas, veterinário, artistas de diferentes gêneros, restauranter, esportista, escritora, artista plástico, empresários e até um guarda florestal emprestam suas vozes e memórias para relembrar a cidade do passado e apresentar propostas para o futuro.

Foram entrevistados: Abram Szajman, Adolfo Lindenberg, Aldo Bartholomeu, Antonio Cassalho, Bolívar Lamounier, Carlos Bratke, Emanuel Araújo, Eugênia Gorini Esmeraldo, Flavio Villaça, Gian Carlo Gasperini, Hernâni Donato, João Emílio Gerodetti, Laudo Natel, Luciano Wertheim, Marc Rubin, Maria Ruth Amaral de Sampaio, Massimo Ferrari, Miguel Badra Júnior, Milton Vargas, Nestor Goulart Reis, Oberdan Cattani, Odil Baur de Sá, Ozires Silva, Paulo André Jorge Germanos, Paulo Júlio Valentino Bruna, Paulo Nathanael Pereira de Souza, Paulo Vanzolini, Plínio Assman, Roberto Bratke, Romeu Chap Chap, Rosa Kliass, Ruy Ohtake, Vicente Amadei, Victor Brecheret Filho, Violeta Jafet, Walmor Chagas e Zélio Alves Pinto.

Visual

O livro contém um rico apanhado de fotos antigas e atuais, que seguem a mesma direção do texto, com a documentação de pessoas e marcos referenciais e suas transformações ao longo do tempo. São registros belos, sofisticados e sobretudo verdadeiros, como as opiniões e conceitos colocados pelos depoentes.

Sobre Ricardo Viveiros

Jornalista e escritor há 45 anos, Ricardo Viveiros é autor de 23 livros, dentre eles várias biografias e histórias de cidades e instituições. Viveiros tem alguns de seus livros em várias edições, e com traduções ao alemão, inglês e espanhol. Recebeu importantes prêmios no Brasil e no Exterior.

Sobre a fotógrafa Kênia Hernandes

Nascida em Goiânia, em 1971, Kênia Hernandes mudou-se para São Paulo aos 11 anos de idade. Quinze anos depois, a família decidiu voltar para a terra natal, mas ela preferiu permanecer em São Paulo. Chegou a cursar Biologia, mas depois de uma temporada na França decidiu abraçar a fotografia como profissão. Em 1999, viajou pela América do Sul, aprimorando-se como fotógrafa. Conquistou prêmios no Brasil e no Exterior.