Falta qualificação na onda do desenvolvimento
* Flavio Amary
A primeira década do século 21 viu nascer cerca de dez novos grandes municípios brasileiros com mais de 500 mil habitantes. Somados às trinta cidades então já existentes com igual perfil no Brasil – dezoito delas capitais e doze no interior do País – temos agora o mesmo número de metrópoles entre as capitais e o interior. Alguns desses núcleos conseguem destacar-se pelo notável desenvolvimento com manutenção da qualidade de vida.
As cidades do interior paulista, por exemplo, representam com maestria essa rara fatia, atraindo riquezas pelas mãos da fórmula serviços de ponta x tranqüilidade e segurança. Naturalmente, toda essa bonança acaba por alavancar a indústria imobiliária local e, um dos grandes desafios apresentados por esse contexto positivo para o setor é justamente manter o crescimento populacional com garantias consideráveis de emprego e renda.
Hoje, o interior paulista é um País, com PIB superando a casa dos US$ 135 bilhões – 12% maior que o PIB chileno, por exemplo -, respondendo por 44% de todas as riquezas produzidas no Estado de São Paulo e 13% do Brasil. Só nos primeiros cinco meses do ano passado, a região gerou quase 360 mil novos postos de trabalho, número que corresponde a 75% de todos os novos empregos do Estado.
Embora São Paulo concentre mais de 60% das cidades médias que crescem por meio de atividades educacionais (o Estado é responsável por um quarto de toda a produção científica nacional, abrigando importantes instituições de ensino superior brasileiras), sua indústria imobiliária não está livre de um flagelo comum: a falta de profissionais qualificados.
Em décadas anteriores, imperavam no mercado a baixa produtividade, o pouco cuidado com a segurança, o uso de equipamentos rudimentares e a mão de obra pouco qualificada. Hoje, o sucesso de um produto depende da qualidade de todos os elos da construção civil. Para isso, a mão de obra passou a ser mais qualificada e novas regras surgiram para controlar os procedimentos.
Estamos no auge de um período produtivo, mas, como manter esse cenário, sem considerarmos a importância crescente da formação profissional? A verdade é que o forte momento da construção civil contrasta com a pequena quantidade de profissionais qualificados. Tanto mais quando assistimos à decolagem do programa Minha Casa, Minha Vida, que aumentou sensivelmente a quantidade de projetos, à consolidação das políticas de crédito imobiliário, ao advento do pré-sal, que movimenta sobremaneira a Baixada Santista, ou mesmo a toda a demanda, em breve, gerada pela Copa do Mundo e pelas Olimpíadas.
Todos sabem que a indústria imobiliária nacional já é uma das principais responsáveis pela geração recorde de empregos com carteira assinada (vide estudos do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados – Caged – do Ministério do Trabalho). Mas, quando o empresário do setor implementa uma grande obra, que requer investimento elevado, cada vez menos encontra qualidade no momento da contratação.
Para reforçar a tese, recente levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), revela que o custo da produção aumentou muito em função dos altos salários exigidos pelos poucos e bons profissionais. Apesar de tudo, em 2010 a maioria das empresas imobiliárias do Estado trabalhou em ritmo acelerado e com número de empregados crescente. E assim deve ser também ao longo de 2011.
Essa realidade também é detectada em cidades como Sorocaba, Campinas, Jundiaí, Taubaté e São José dos Campos, que, dentre outras, apesar dessa dificuldade avançam nos investimentos, não só no âmbito empresarial, mas também no sentido de reunir esforços e instituir parcerias com entidades afins, rumo à promoção do aperfeiçoamento e formação profissional.
O processo de capacitação é essencial e deve ocorrer o mais rápido possível. Com a rotatividade de profissionais no setor, as empresas deverão cultivar uma visão autocrítica sobre o clima organizacional e criar uma relação de confiabilidade, inclusive a partir das experiências e vivências de cada um.
A escassez de mão de obra é um contexto que deve perdurar por algum tempo ainda, já que a formação de profissionais requer investimento de mais longo prazo. É preciso reinventar a empresa, quando a realidade muda, e avançar com mais afinco no setor da educação, para não desperdiçarmos esse momento de ouro.
* Flavio Amary é vice-presidente do Interior do Secovi-SP