CBCS recomenda cautela no uso de materiais refletivos nas coberturas
Notícia 25/05/2011
Fonte: Pini Web
Comitê Técnico de Materiais divulgou nota oficial com o posicionamento da entidade sobre o tema. Confira, na íntegra, o Posicionamento sobre tetos frios – considerações sobre o tema.
A radiação solar tem papel importante na elevação da temperatura de casas e edifícios. Em uma casa térrea, a maior parte da carga térmica vem do telhado.
A literatura mostra que o uso de materiais “frios”, capazes de refletir parte significativa da radiação incidente em telhados, fachadas e pavimentos em climas quentes, é uma alternativa para melhorar o conforto térmico nas edificações e diminuir o consumo de energia para condicionamento de ambientes. Adotá-lo em escala urbana pode minimizar a ilha de calor das cidades, aumentando o conforto no ambiente externo e reduzindo conjuntamente a demanda de energia para condicionamento térmico. O uso de vegetação em telhados, fachadas e ruas, pelo efeito de sombreamento e evapotranspiração, tem o mesmo potencial de reduzir a carga térmica dos edifícios e as ilhas de calor, além de reter a água de chuva, colaborando para a redução de enchentes, e para aumentar a biodiversidade. Outros produtos, como telhas metálicas não pintadas (alumínio ou galvanizadas), apresentam boa refletância. Películas com barreiras de radiação colocadas sob telhados convencionais, bem como isolantes térmicos e dispositivos de sombreamento, também reduzem o ganho térmico dos edifícios, embora não tragam benefícios urbanos.
Como o olho humano enxerga uma pequena faixa do espectro da radiação, é possível alterar significativamente a refletância sem modificar a cor, alterando apenas a capacidade de refletir radiação na faixa infravermelho. Estas tecnologias, disponíveis comercialmente, inclusive no Brasil, possibilitam a fabricação de materiais “frios” em cores médias que refletem radiação na faixa do infravermelho.
Assim, é possível garantir ganhos de conforto térmico e redução do consumo de energia sem a necessidade de utilizar cor branca ou clara, inclusive por meio do uso de arborização urbana e cobertura verde. Além de desnecessária, a especificação de qualquer cor ignora necessidades estéticas, culturais e de funcionalidade, podendo descaracterizar conjuntos históricos. A utilização da cor branca ou clara de forma generalizada pode trazer problemas funcionais para o ambiente construído, pois a excessiva reflexão de luz pode causar ofuscamento e desconforto visual para ocupantes de edifícios vizinhos.
O principal problema desses materiais é a sua durabilidade. A exposição do material, particularmente em superfícies quase horizontais, provoca degradação do desempenho, tanto pela deposição de sujeira quanto pela colonização superficial por micro-organismos. A velocidade de degradação varia significativamente de acordo com as propriedades da película e do material de substrato. Tintas convencionais empregadas em telhados perdem rapidamente suas capacidades reflexivas quando expostas ao clima brasileiro.Nesse processo, os biocidas necessários à formulação da tinta são lixiviados pela chuva. A reposição frequente aumenta os impactos ambientais, reduzindo os benefícios. Por esses motivos, organismos certificadores como o “Cool Roof Council” norte-americano só chancelam a validade de produtos que tenham sido avaliado por três anos de envelhecimento natural, em condições climáticas da região de interesse. Soluções com durabilidade provada em outros climas não necessariamente tendem a apresentar durabilidade adequada no Brasil, pois o clima é o principal fator na colonização por fungos e outros micro-organismos com pigmentos escuros. No País, não dispomos de referenciais similares.
Além disso, telhados apenas se mantêm reflexivos se forem periodicamente submetidos à limpeza com água e escovação. Para isso, é necessário garantir acesso fácil e seguro aos telhados, além de pontos de abastecimento de água, bem como soluções de baixo consumo hídrico. Diferentemente do que ocorre em outros países, a quase totalidade dos telhados é inclinada no Brasil, com risco de escorregamento e sem acesso adequado. A maioria das telhas, em materiais como a cerâmica e o fibrocimento, pode quebrar sob o peso de uma pessoa caminhado, exigindo estruturas adicionais para o caminhamento seguro no telhado. Esses aspectos tornam operações de limpeza e manutenção mais difíceis e arriscadas, reduzindo assim a efetividade da solução. Em situações onde o acesso e a limpeza do teto são difíceis, o emprego de isolamento térmico e barreira de radiação, ou até mesmo a adoção de soluções como ventilação natural ou mecânica, sombreamento por vegetação ou dispositivos físicos, podem ser as mais adequadas.
Finalmente, o tema ainda é objeto de muitas pesquisas, inclusive no que se refere à metodologia de avaliação de desempenho do material.
Conclusão
Recomendamos que o uso de toda e qualquer solução que possa reduzir a carga térmica e combater as ilhas de calor – telhados frios, tetos verdes e isolamento térmico de telhado, arborização urbana, pavimentos frios etc. – seja promovido no mercado brasileiro por seus reais benefícios. Simultaneamente, é necessária a realização de pesquisas sistemáticas, inclusive sobre a durabilidade nos diferentes climas. Estes estudos devem ser capazes de gerar normalização técnica que proteja a sociedade com soluções adequadas, seja pelo desempenho inicial, pela durabilidade, pela redução do impacto ambiental durante o seu ciclo de vida, entre outros aspectos.
No atual estágio do conhecimento, e considerando a experiência internacional e brasileira, o CBCS – Conselho Brasileiro da Construção Sustentável recomenda que antes de qualquer política pública que vise tornar obrigatória, tanto para edifícios novos como existentes, seja feita uma análise das alternativas técnicas disponíveis para telhados que possam reduzir os efeitos de ilhas de calor. Soluções precipitadas podem causar prejuízos ambientais e econômicos para a cidade e sua população.
Por outro lado, políticas públicas visando à promoção da arborização urbana podem trazer enormes benefícios no curto e longo prazo.
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Fonte: www.piniweb.com.br/construcao/sustentabilidade/artigo218815-2.asp