Brasil e o necessário Projeto de Nação
A carreira de Engenharia está enfraquecida. Estimativas oficiais apontam que de 3,5 formados no País, somente um exerce a profissão. Conforme o Censo da Educação Superior de 2009, divulgado pelo Ministério da Educação, 420 mil alunos se matriculavam por ano nos cursos de engenharia no Brasil, mas somente 32 mil se graduavam.
Em contrapartida, a China forma anualmente mais de 400 mil, a Índia 250 mil, a Rússia 100 mil e a Coréia do Sul mais de 80 mil. Neste último país, há 20 engenheiros em cada grupo de 100 formandos. Aqui, são apenas oito para cada 100. Além disso, dos 10 mil doutores e 30 mil mestres pós-graduados todos os anos, pouco mais de 10% estão nas áreas de engenharia ou ciência da computação, segundo dados da Capes. Essa realidade é muito mais drástica, porque os estudantes que conseguem concluir o curso no Brasil, de uma maneira geral, têm dificuldades de comunicação e apresentam graves lacunas culturais.
A melhora na educação, porém, poderá fazer da Engenharia a principal ferramenta para a construção de um Pacto Nacional de Desenvolvimento coerente, abrangente, sistêmico e sustentável.
Lembro que em 1930, o mundo atravessava um momento de profunda crise. O Brasil montou com Getúlio Vargas um modelo nacional abrangente, que atravessou, com algumas alterações, mais de nove décadas e sobrevive até hoje. Em 1964, os militares introduziram mudanças significativas na matriz. As “Diretas Já” exibiram a sociedade flexionando os músculos para mudanças nacionais.
Os engenheiros, poderosos durante todo esse período, perderam força nos anos 1980 e 1990. Ficaram acanhados, e o Brasil dirigiu sua esperança para os advogados que nos ensinavam a necessidade da “Rule of Law”, o Estado de Direito. Afinal, após longo tempo de catarse social, era necessário defender direitos e garantias individuais.
Hoje, a Democracia está consolidada, a economia sólida, a inflação controlada, os consumidores conscientes. Com todas essas mudanças estruturais, é chegado o momento de desenhar um Projeto de Nação. E a Engenharia pode ser a ferramenta de sua proposição.
Esse projeto tem de estar baseado em conhecimento dos recursos e das oportunidades, definir com soberania os princípios e conceitos do desenvolvimento sustentável, delineando estratégias nacionais de competição. Será essencial uma grande coalisão social e política, um pacto abrangente com interesse nacional.
João Crestana é engenheiro, presidente do Conselho Consultivo do Secovi-SP e da Comissão Nacional da Indústria da Construção da CBIC