Cada cabeça, uma sentença
Antes de começar o seminário Urbanismo e Jornalismo – A São Paulo que queremos, realizado pelo Jornalistas&Cia, com apoio da Universidade Secovi-SP e do Instituto Internacional de Ciências Sociais (IICS), dois integrantes da equipe de filmagem que registrou o evento, enquanto ajustavam seus equipamentos, discutiam sobre o fato de que os veículos de comunicação, dentro de suas pautas e grades de programação, dão muito mais destaque para as transmissões de jogos de futebol, em detrimento de outras modalidades esportivas.
Poderíamos considerar que eles, até certo ponto, inconscientemente, estariam construindo uma interessante analogia entre a divisão do espaço dedicado à cobertura de futebol, basquete, vôlei, natação, atletismo e outras competições e a questão do uso e aproveitamento do solo urbano, que também pode ser considerado injusto, inadequado e pouco parcimonioso.
É bem verdade que, no caso específico da organização das nossas cidades, em especial das grandes metrópoles, as consequências são mais danosas e afetam um número muito maior de pessoas – só em São Paulo, pode-se contar um universo de mais de 11 milhões de habitantes, por exemplo. Isso sem se considerar a quantidade de pessoas de cidades vizinhas, do interior do estado e de outras cidades brasileiras que aflui diariamente para a capital paulista, atraída pela oferta de alternativas de negócios, lazer, saúde etc..
Outra constatação, facilmente comprovável, é que cada uma dessas 11 milhões de pessoas, que realmente habitam a cidade (que já foi chamada de Pauliceia Desvairada, por Mário de Andrade), tem sua própria concepção do que considera o ideal de cidade para viver. Daí a importância de se discutir, cada vez mais e constantemente, o uso do espaço citadino, o aperfeiçoamento da moradia, a mobilidade urbana, o transporte público e a qualidade de vida, visando à preservação dos direitos e deveres e a convivência saudável e pacífica da população.
É claro que não é fácil. Até porque o assunto é polêmico e granjeia opiniões diversas e até contraditórias, envolvendo interesses e compromissos de todo tipo, tanto positivos como negativos. Entretanto, mesmo que consideremos apenas as sugestões bem intencionadas, já temos muitas soluções para serem analisadas e selecionadas, uma vez que estamos diante de um assunto sobre o qual milhões de pessoas se julgam “especialistas”. Aí, por acaso, mais uma coincidência: esta com o futebol, o esporte que todo mundo se considera expert.
É bom lembrar que as recentes manifestações ocorridas no País, aglutinando milhões de manifestantes nas ruas de grandes cidades brasileiras, tiveram como estopim principal, entre outros temas, o preço das passagens de ônibus urbanos, que é apenas um dos itens de uma pauta muito mais abrangente de discussão sobre as nossas cidades.
Essa diversidade de opiniões não poderia deixar de estar marcantemente presente também no evento do Jornalistas&Cia, que reuniu especialistas (estes de fato) em diversas áreas relacionadas com a organização urbana e representantes da imprensa que se ocupa de repercutir e analisar o dia a dia das cidades, com seus problemas e influências sobre o modo de vida dos cidadãos.